Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Imagem Ilustrativa |
Brasília – A capacidade tecnológica instalada, a legislação e a burocracia, geralmente apontadas como dificuldades para diminuir custos de produção, inovar, agilizar procedimentos e tornar o Brasil mais competitivo economicamente, foram fundamentais para que o país fosse escolhido para iniciar a produção em massa e os testes urbanos com o mosquito Aedes aegypti geneticamente modificado para controlar a transmissão da dengue.
A opinião é da bióloga Margareth de Lara Capurro Guimarães, professora do Departamento de Parasitologia da Universidade de São Paulo (USP), uma das pesquisadoras à frente da experiência de produção, liberação e monitoramento do mosquito geneticamente modificado em bairros de Juazeiro (BA). “Nós temos uma linha de trabalho com OGM [organismo geneticamente modificado] muito bem definida. Temos um sistema de regulamentação e temos a CTNBio [Comissão Técnica Nacional de Biossegurança] muito bem estruturada”, elogiou.
Para ela, as condições institucionais levaram o Brasil a ser o único país a sediar a pesquisa de campo com o mosquito originalmente modificado pelo Laboratório Oxitec, uma empresa incubadora originalmente vinculada à Universidade de Oxford (Inglaterra). “Há uma estruturação no Brasil que em outros países não existe. Isso faz uma grande diferença. Outros países não sabem nem por onde começar”, comparou. “É impressionante como a coisa funciona bem”. Segundo ela, o Brasil tornou-se referência mundial na regulamentação de transgênico.
A despeito da aprovação da cientista, a experiência com OGM ainda é criticada (especialmente para a produção de alimentos) por parte da comunidade ambientalista, que há sete anos se opôs fortemente à aprovação da Lei nº 11.105/2005 que regulamentou as normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados, conforme previsto na Constituição.
A pesquisa de campo, que conseguiu reduzir em 90% o mosquito transmissor da dengue em dois bairros de Juazeiro (BA), será ampliada até o fim do ano após autorização da CTNBio, acredita Margareth Capurro.
A expectativa dela é, até dezembro, levar a pupa (fase do inseto antes de adulto) do Aedes aegypti para o município de Jacobina, também na Bahia. Com 79 mil habitantes, a cidade apresentou no primeiro semestre deste ano 1.647casos de dengue e duas mortes, segundo dados do Ministério da Saúde.
A realização do trabalho de campo em Jacobina é considerada fundamental para a continuidade da pesquisa. “Não tivemos como ter medidas de impacto na dengue. Não adianta fazer em um bairro de uma cidade. É muito pequeno”, disse ao explicar a necessidade de ampliação da pesquisa.
Para o fornecimento de mais mosquitos modificados, o governo da Bahia investiu cerca de R$ 1,7 milhão na ampliação da biofábrica da empresa pública Moscamed (com status legal de organização social), com capacidade produtiva de 4 milhões do Aedes aegypti modificado geneticamente por semana.
Os insetos modificados são machos e têm uma proteína transmitida aos descendentes que os mata ainda na fase de larva. Como esses “filhotes” não cresceram até a fase adulta, deixam de ser vetor do vírus da dengue, contribuindo para reduzir o número de pessoas contaminadas.
De janeiro a junho deste ano, foram registrados 431.194 casos de dengue em todo o país, conforme o ministério. Além da experiência com o mosquito geneticamente modificado, o Brasil tem pesquisas para o desenvolvimento da vacina contra a dengue e a produção de reagentes a partir de planta. Os cientistas que lidam com esses projetos têm grande esperança com as experiências de laboratório, pois não acreditam que o Brasil vá resolver os problemas de falta de saneamento básico antes de ter soluções científicas e clínicas para a dengue.
Edição: Carolina Pimentel
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